Ontem passei o dia mascando um silêncio, despindo sorrisos, comendo alguns livros, tragando caminhões, paquerando um sofá, assistindo um céu roxo, cozinhando meus amigos, parindo um suspiro, compondo um telefonema, cutucando o futuro, trabalhando um repouso, sonegando paixões, presidindo formigas, transando com músicas, convencendo meus cabelos, dançando com o chão, pavimentando o ar, aconselhando ondas, vingando as calças apertadas, saboreando o leite derramado, cagando uma fofoca, arquitetando meus sapatos, fugindo do rei, convidando as idéias e celebrando as luzes da rua.
Mas eis que hoje, de tanto mascar, o meu silêncio perdeu o gosto e eu resolvi despir as calças apertadas, parir uma luz, celebrar meus amigos, vingar meu cabelo, dançar num céu roxo (e assistir), presidir o futuro, compor meu próprio chão, aconselhar os livros, arquitetar as ondas, paquerar o rei, pavimentar o repouso, trabalhar as idéias, tragar o ar, saborear paixões, transar os sorrisos, cutucar as formigas, convencer os caminhões, sonegar as fofocas, cagar para os telefonemas, comer um suspiro com leite, pisar no sofá com meus sapatos, convidar as músicas, cozinhar tudo isso e depois fugir.
Texto copiado do blog (excelente) de Tati Bernardi